Ciclagem da educação - estatística e abandono
Autor: Fabio Capilé
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Houve um tempo em que os professores do nível fundamental, médio e do ginásio
eram tidos como verdadeiros ídolos, não só dos alunos como também da sociedade
de maneira em geral, pois eram reconhecidos como a fonte do saber, e desde o
B-A-BÁ até a formação superior, acompanhavam passo a passo a vida dos seus
pupilos.
Nessa época, o professor tinha autoridade, e era respeitado por
todos, sendo que seus conselhos e apontamentos eram absorvidos pelos pais e
alunos; diante de qualquer peraltagem, estes acabavam tendo na caderneta as
anotações, como forma de politica pedagógica, para que tais atos não viessem a
se repetir.
Os anos passaram, e os professores foram lançados em um
verdadeiro campo de guerra, onde o primeiro alvo atingido em cheio foi a sua
dignidade. Os seus vencimentos foram convertidos em salários de miséria. As
armas para se lutar onde estão? No plano ideal, disponibilizam, aos professores,
manuais para manuseio de rifles e fuzis de ultima geração mas, na hora do
fronte, entregam em suas mãos verdadeiros estilingues, ou fundas se assim for
preferido. E os métodos de ataque, estes, nem se fale. Atualmente, segundo a
política de educação, se a escola vai mal, não é por culpa da estrutura física,
não é por causa da metodologia utilizada pelo Estado, não é culpa dos pais
ausentes, sendo tudo culpa única e exclusiva do próprio professor.
As
lições morais e éticas, bem como o acompanhamento dos alunos, devido à vida
assoberbada em família, que impõe não só ao pai, mas também à mãe, o dever de
trabalhar fora, acaba por deixar órfão do conhecimento o filho, que não tem mais
o monitoramento destes em casa. E aí, sabe a quem é atribuída a culpa de tudo
isso. Ao professor. O professor é responsável não só por preparar o conteúdo,
ficar em sala, com calor insuportável de 40º centígrados, e ainda é obrigado a
transformar alunos, aprumando-os nos caminhos morais, buscando o milagre de
substituir os pais, além de ensinar a quem não quer aprender, resultado
inevitável de um lar mal estruturado. E para piorar, vocês sabiam que atualmente
os alunos das escolas públicas sequer podem ser reprovados? Tudo isso em
decorrência da chamada “ escola ciclada”, que na teoria consiste na organização
de ciclos de formação humana vórtice da politica educacional para o Ensino
Fundamental, mas que na prática busca estabelecer dados estatísticos de que as
nossas escolas vão bem, pois se o aluno não reprova, é porque ele está apto para
galgar uma nova fase da sua vida, ou seja, a série subsequente. Este quadro se
transforma em um acintoso mascaramento da realidade o ensino em todo o Brasil. A
consequência prática de tudo isso, enfim, é que hoje temos crianças saindo do
ensino fundamental semianalfabetas. Subliminarmente ensinam a elas que não há
necessidade de estudar, pois não há barreiras a serem transpostas. Por outro
lado, lá na frente, impõem ao mesmo aluno o dever de passar no vestibular,
estabelecendo quotas aparentemente justas, como meio de minimizar o abissal
desnível entre a clientela e as consequentes sequelas, que nada têm a ver com
possíveis preconceitos plantados na sociedade. É a mesma coisa que impedir que
uma criança ganhe anticorpos, durante toda a sua vida e, repentinamente, ser
exposta a uma infinidade de vírus sociais gerados pela incompetência de gestão
na educação de um modo geral. É claro que ela não irá resistir, pois não foi
preparada para tanto. Assim o conhecimento se esvai pelos ralos da indiferença e
as nossas crianças se tornam reféns da ignorância e os nossos professores,
mestres guerreiros, aguardam na trincheira o dia da sua morte.
Fabio
Capilé
É Advogado, Presidente do Instituto dos Advogados Mato-grossenses,
Professor Universitário e Conselheiro Titular da OAB/MT